Medeia
de um melodrama de Georg Benda

Uma outra Medeia
O melodrama Medeia de Georg Benda (1775) é o ponto de partida para este exercício de criação, num gesto contemporâneo capaz de indagar esta forma cénica setecentista, na qual a palavra dramática falada dialoga explicitamente com as frases musicais que, no presente caso, chegaram a estimular Mozart.
Abordar na cena esta Medeia que a música do Barroco glosou, mas não ficar confinados à brevidade do libreto de Friedrich Wilhelm Gotter, nem somente à partitura de Benda. Ir para além deles, nos corpos moventes que escutam e perscrutam o silêncio, entre o verbo dito, herdeiro do canto, e os ambientes sonoros invocados onde vozes monologantes se nos dirigem com os vários rostos que a dramaturgia colheu da narrativa mítica. Subvertendo o contexto androcrático de onde emerge, a figura de Medeia contém em si o terror arquetípico propiciado pela vingança passional da mulher traída enquanto sujeito da ação, desde o momento inaugural em que Eurípides a inventa para o teatro, transformando a feiticeira da Cólquida na trágica filicida por razões da paixão.
Uma Medeia ainda que se torna ocasião privilegiada para reunir num só projeto de criação cénica e musical alunos e docentes de duas unidades orgânicas irmãs, sediadas no Instituto Politécnico de Lisboa: a Escola Superior de Música e a Escola Superior de Teatro e Cinema.

Armando Nascimento Rosa

Espetáculo de Alunos Finalistas da ESTC em parceria com o Laboratório de Música Mista da ESML